Julho 2014 (2)

Oops, esqueci-me…

por Afonso Gregório » 23 jul 2014, 01:27

…foi exactamente o que disse para mim mesmo há um par de dias atrás num acto de conformismo… Na ânsia de sair de casa para pescar, tinha-me esquecido da bolsa na qual carregava as caixas dos hardbaits. Apenas tinha a minha fiel companheira de guerra, a minha matadora, que nunca me deixa ficar mal, que tem o seu lugar reservado num expositor aquando da reforma, montada previamente na cana e, meia dúzia de vinis no fundo da mochila. E para quem não sabe… eu sou um fã incondicional de amostras rígidas… Eis a minha matadora:

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Mas a pesca é assim mesmo, são os detalhes, os pequenos pormenores, que tornam os acontecimentos memoráveis. Tinha perante mim um desafio que não iria deixar por superar, apesar de sentir que estava condicionado e até um pouco desconfortável com o material que tinha disponível. Rapidamente me fiz ao pesqueiro e comecei a trabalhar paralelo à margem, apostando em estruturas como troncos e vegetação densa. Logo num dos primeiros lançamentos, matadora a passar junto a um tronco, pausa…jerk jerk… deixo a amostra vir um pouco à superfície e… explosão! Assisto em primeira mão a um espetáculo digno desse nome! Ataque falhado, mas já me corria adrenalina por todo o organismo! Continuei a explorar zonas como a da fotografia abaixo, fazendo a amostra passar naturalmente pelo meio da vegetação, como se de um peixe perdido e desorientado se tratasse.

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E… não tardou a primeira captura. Um bonito peixe que, de forma voraz, mostrou o seu instinto predatório. Com algum engenho procurei evitar que o peixe se prendesse no meio da vegetação e consegui trazê-lo até às minhas mãos.

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No final das fotos devolvi o peixe à água e… a minha face já esboçava involuntariamente um sorriso. Estava contente, estava feliz, a fazer aquilo que tanto gosto, pescar. E é este sentimento que me faz ir tantas e tantas vezes à pesca. É uma sensação inigualável, genuína. Oxalá conseguisse expressar por palavras aquilo que sinto. Oxalá toda a gente tivesse algo que as fizesse sentir desta forma. Percorri uma margem tendo sucessivos toques de peixes de palmo, sendo que de quando em vez lá saía um ou outro cá para fora. Estes pequenotes não são nada ponderados, atiram-se a tudo o que mexe! Tenho reparado nas últimas jornadas de pesca que os Achigãs sobem até zonas já muito pouco fundas, onde quase não há água. E foi justamente nessas zonas que apostei no resto da jornada. Faço um lançamento e a amostra causa furor num cardume de pequenotes. Quer dizer… num cardume de pequenotes e num maiorzinho que não deixou a amostra passar-lhe despercebida. Ferro o peixe, umas corridas para cima e para baixo ao longo daquela faixa tão estreita de água e eis que o peixe se rende às minhas mãos. Ei-lo:

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Se há caso para dizer que não há duas sem três, é este mesmo, pois assim que solto o peixe e faço o próximo lançamento numa espécie de bacia onde a massa de água principal se encontra com este afunilamento, nova pancada e novo peixe! Já parecia maiorzinho. Ainda deu uma bela luta, presenteando-me com saltos espetaculares, que, felizmente, não consigo deixar de adorar. Deitei-o e fotografei-o. A suspeita confirmava-se, já era mesmo maiorzinho. Um bonito peixe que de forma imponente e majestosa exibia os seus tons verdes que lhe conferem uma beleza espetacular.

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E como a pesca para mim vai muito para além do peixe, fui tirando umas fotografias ao ambiente que me envolvia. A pesca, como um todo, quando vivida em harmonia com a natureza, torna-se fascinante.

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Quando dei descanso à máquina continuei a fazer lançamentos, mais uma vez num afunilamento, onde pouca água corre. Na entrada deste já tinha pescado bons peixes, é um sítio que sei que alberga peixe. É um verdadeiro hot spot e ficou para o final. Um primeiro lançamento e ferro um peixe que se desferra. Novo lançamento e ferro um belíssimo Achigã que meteu o meu coração aos saltos. Infelizmente também este se desferrou. Reconheci o trabalho bem feito pela minha matadora e dei-lhe a folga para o resto da tarde. De forma comodista engatei no clip um wide gap hook e olhei para os vinis que tinha no fundo da mala. A escolha foi instantânea, peguei num senko de cor verde que e fiz aquela que para mim é uma das melhores montagens que se podem fazer com um vinil, um wacky rig. Montagem matadora, extremamente natural, que permite pescar lentamente ou de forma mais errática; mais fundo ou a meia água; e, sobretudo, fatal para achigãs em estruturas, aqueles locais onde sabemos que eles têm que lá estar. Com pequenos toques de ponteira o senko ganha vida aos olhos de qualquer Achigã! E assim foi.. um lançamento, um peixe. E que belo peixe! Eu não sei se isto é comum, mas para mim foi fora do vulgar a coloração do peixe que acabara de pescar. Tinha manchas acima da linha lanteral, quase como o padrão de um leopardo!! Lindo, lindo, lindo!! É comum? Ou será algum tipo de diferenciação genética ou algo assim? Espero que dê para ver bem nesta foto:

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Devolvi o peixe à água e o senko tinha saltado disparado. Não tinha mais nenhum, por isso cortei a cauda a um vinil da zoom e fiz um “senko improvisado”. E… resultou. Houve ainda tempo para mais dois peixes. Um:

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E o outro:

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Estava-se a aproximar a noite. Era altura de dar por encerrada a jornada. E assim fiz.

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Não podia pedir mais, passei verdadeiro tempo de qualidade a fazer algo de que verdadeiramente gosto. Durante esse tempo vivi num mundo só meu, onde existe harmonia entre todas as coisas, onde me sinto feliz e realizado. Vivo.

Ficha técnica:
Cana: Shimano Beastmaster BX 180L 3-14g
Carreto: Grauvell Genesis Micro ZX 1000
Amostras: Grigas Handmade; Gary Yamamoto – Senko; Zoom – Speed Worm