Outubro 2016

O que o Verão tem para oferecer
por Afonso Gregório» 10 out 2016, 19:11

Boas,
Parece ser unânime entre os pescadores de spinning que a época alta da modalidade começa no final do Verão, atingindo o seu pico nos meses de Inverno. Os hábitos migratórios do Robalo, a par com a inata procura pela descendência da espécie tudo fazem crer que sim. O Verão torna-se uma altura menosprezada, mas os Robalos andam lá, andam a comer, aproximam-se da costa, andam a caçar em zonas por vezes com 50 cm de água. O ingrediente secreto, se é que existe, passa por conhecer o pesqueiro. E isto não se aprende online, nem através de fotos, nem mesmo pela palavra de outro pescador.. é preciso ir lá muitas vezes, é preciso muita hora junto ao mar, nas mais diversas condições e factores que influenciam a pesca. Só assim se consegue, a meu ver, uma certa cadência nas capuras. E são algumas dessas capturas que venho aqui relatar.

Desde miúdo que passo o meu Verão junto ao mar, na mais bela baía. Foi lá que comecei a pescar, tenho mais horas a lançar amostras naquelas pedras do que em quaisquer outras. E é lá que passo agradáveis momentos a pescar e sou feliz.

A minha primeira investida no mês de Agosto foi numa manhã calma. O dia já havia nascido, havia já bastante luz quando cheguei ao pesqueiro. Comecei a pescar com o vinil, mas para chegar à rebentação bem lá à frente insisti posteriormente um bom bocado na zagaia. E se até ali havia apenas capturado um bodião ao spinning, acabara pois de capturar o segundo! E que belo bodião, para meu enorme espanto!

No dia seguinte o mar ia crescer, e eu lá iria estar. Aproveitei a vazante ser por volta do pôr do sol e desloquei-me ao pesqueiro. Ainda lá de cima vi que o mar ia estar no limite do pescável, e fiz a minha descida a pensar na abordagem que iria ter perante as condições que enfrentava. Fiz a pesca praticamente toda com a zagaia, naquele mar incerto a fazer um grande espumeiro que começava lá bem ao longe.

Num dos lançamentos sinto peixe, peixe esse que não foi fácil de controlar, mas com calma consegui aguentar e trazê-lo até mim, ao ponto de deixar que uma onda maior o colocasse em cima de uma pedra onde o conseguisse cobrar. Era já um belo robalo, o primeiro do mês de Agosto! Estava contente, subi com um sorriso na cara e parei a meio para apreciar o cenário do sol desaparecer para lá do horizonte.

O Verão significa muito para mim, pois é a altura durante a qual, enquanto estudante, posso aproveitar para fazer tudo o que gosto. Não abdico de nada, procuro antes conciliar tudo. Tenho a sorte de ter bons amigos e a melhor família que se pode pedir, as pessoas que são importantes na minha vida merecem sempre a minha dedicação. Aproveito então pescar quando se reunem as melhores condições para os pesqueiros que frequento… Manhãs de nevoeiro, mar grande, marés de lua..

Foi justamente numa manhã que reunia o cenário que tanto gosto que capturei o robalo mais bonito da minha vida. Uma vez que pesco muito na pedra, estou por norma habituado aos robalos escuros, de lombo preto e flancos dourados, mas este viria a surpreender-me mesmo a mim. Um robalo todo ele dourado, mas dourado, incluindo a cabeça! Um peixe magnífico, que foi prontamente libertado, com todo o gosto.

Por esta altura já as pedras estão cobertas de limo, aliás, todo o tipo de algas, o que lhes confere um tom acastanhado. As águas repletas de nutrientes asseguram muita vida, que assume as mais diversas formas e se esconde por baixo da superfície.

Nesta mesma manhã, pouco depois de libertar o primeiro peixe, faço um lançamento a passar junto a uma fileira de pedras que emergiam fora de água. Aquando da recuperação eis que sinto uma pancada forte e um peixe a correr do outro lado. Quem pesca comigo sabe que pesco frequentemente com o draga bastante fechado. Aberto o quanto baste para nada ceder em circunstância alguma, mas fechado o suficiente para evitar que o peixe corra pelo meio de pedras que parecem serrilhas aquando da ferragem, pois o multi a roçar na pedra não é opção.

Dito isto, quando ferro um peixe que começa a correr, é por norma de bom porte. Num mar com vagas enormes e com bastante força deu muito trabalho trazer o peixe até mim, é sempre uma luta imprevisível, ferrar o peixe é só metade da tarefa. Com calma consegui trazer o peixe para onde queria, até que o vejo a romper a superfície e confirmo que era um bom robalo. Aproveitando uma onda coloco-o em cima de uma pedra e deito-lhe o grip à boca. Levei o peixe para longe da rebentação e deito-o em cima de uma pedra para o contemplar. Era um lindo robalo, merecia todo meu respeito. Enquanto ainda tinha vida tentei capturar num registo fotográfico todo o seu esplendor, se bem que nunca é possível.

Por volta de meio do mês, aproveitei para explorar um outro spot, cheio de potencial. É uma zona que delimita uma transição no fundo, uma fileira de pedra perpendicular à costa desce a mesma submergindo à medida que se afasta da costa, marcando a transição para uma outra disposição das pedras mais a norte. É, porém, uma zona cujas melhores pedras apenas ficam acessíveis nas marés de lua, de grande amplitude, durante o pico da vazante, deixando uma pequena janela para pescar e aproveitar. É então importante pescar no sítio certo e, sobretudo, para o sitio certo!

Durante todo o Verão, insisti bastante no vinil de tons rosa/castanho, e com resultados. Foi este mesmo vinil que abriu uma pescaria pela manhã, com um bonito robalo.

Fiz praticamente toda essa manhã com o vinil, até que o sol começou a romper pelo nevoeiro. Aproveitei uma zona onde o mar estava mais certinho e coloquei um passeante. Fiz um único lançamento até ver peixe – sim, porque só depois é que o senti. Um walk the dog certinho, a passar por cima de umas pedras submersas e eis que vejo uma explosão à superfície, literalmente! As capturas à superfície são algo sem igual, é maravilhoso, particularmente quando se tem o prazer de assistir a este espectáculo na primeira fila! Estava radiante, foi uma das capturas que mais gozo me deu!

Desde o ataque até ter o peixe na mão não demorou muito, era um lindo robalo da pedra, bem escuro. Este sim merecia ser fotografado, foi até à data o maior robalo que capturei à superfície, ainda para mais com uma Rapala Skitter Walk 11 pintada por mim! Amostra essa que apenas fez dois lançamentos, pois no lançamento imediatamente após à captura fico presa numa pedra, para não mais voltar, infelizmente.. mas é assim, faz parte, tudo faz parte!

Posto isto, a próxima investida que tenho a relatar foi para mim, algo peculiar. Numa manhã em que o nevoeiro estava tão cerrado que chegava a molhar, fiz 5 peixes, certamente em menos de uma hora, 4 robalos e um bodião. Todos os robalos foram capturados nas mesmas pedras, uma zona certamente a não mais de 15 metros da pedra onde pescava. Todos eles com o mesmo vinil, que acabaria essa pesca todo rasgado, certamente com o seu dever cumprido. Deixo a foto do maior e do mais pequeno, bem como do bodião, que tinha já um tamanho considerável.

Pela primeira vez, procurei também aproveitar as marés grandes à noite. Fiz duas pescarias sem resultados, ao longo das quais aproveitei para me sentir à vontade. É incrível como de noite tudo muda, um pesqueiro tão familiar torna-se quase irreconhecível, é preciso saber mesmo onde estar sem arriscar e foi essa a minha aprendizagem. Na terceira investida nocturna que fiz, a última do verão, fui presenteado com mais um excelente robalo.

Estava a pescar numa das poucas zonas onde é relativamente seguro pescar com amostra, e foi lá que senti uma enorme pancada e um peixe a correr do outro lado! Com muita calma tratei de controlar o peixe até que este estivesse pronto a cobrar. Com o peixe já nas mãos sentia-me extremamente feliz! Ainda consegui tirar uma foto a segurar o peixe, peço desculpa é pela qualidade não ser a melhor…

Curioso que a amostra com a qual tinha capturado este peixe tinha sido encontrada numa das investidas anteriores. O que o mar leva, também acaba por retribuir!

Assim me despedi do meu Verão junto ao mar. Um Verão que passou a correr e me trouxe excelentes alegrias, e por isso fico eternamente grato!

Ficha técnica:

Cana: Cinnetic Crafty Seabass 270
Carreto: Shimano Stradic 4000 FI
Linha: Berkley Whiplash Crystal 0,06 / terminal mono
Amostras: Vinil caseiro / Rapala Skitter Walk 11 / Vega Akada

Um grande abraço,
Afonso Gregório