Tem-se falado tanto em libertar que nunca é demais lembrar alguns procedimentos elementares para uma prática eficiente. Como se observa pela expressão, é o acto de capturar um peixe, fotografá-lo e devolvê-lo nas condições de sobrevivência. É fundamental entender que na pesca o que atrai o pescador é o peixe, de preferência em quantidade e bom tamanho. A atitude de devolver o peixe com vida, independentemente de estar dentro ou não das medidas estabelecidas por lei, deve ser praticada por todos.
Para que um peixe cresça e atinja tamanhos consideráveis é necessário muito tempo pelo que a sua libertação é um aspecto importantíssimo para que a pesca desportiva cresça e se desenvolva de forma sustentada. Apesar dos muitos agentes que condicionam as populações, nomeadamente a poluição, a pesca profissional, a acidificação dos oceanos, etc., é fundamental que cada um dê o seu contributo para o desenvolvimento da pesca, e não é de novos materiais nem a amostras mais eficazes que me refiro. Devolver um peixe com condições de sobrevivência deve ser um acto de prazer, para que ele possa reproduzir-se e contribuir para o aumento dos stocks e quem sabe até…ser pescado novamente. Mas, para que o Catch & Release funcione e traga benefícios é importante saber como proceder correctamente, de forma que o peixe possa sobreviver e desenvolver-se.
Como fazer a libertação?
O peixe não deve ser atirado à água de forma descuidada, pois após a contenda, ele estará cansado e desorientado. Procuraremos então colocar o peixe na água apoiando-o com uma mão por baixo do corpo e outra suavemente na cauda, na posição horizontal, visando a sua recuperação lenta e com vista a uma saudável readaptação com o meio aquático, o pescador só deve largá-lo quando sentir que o peixe está em condições de ir embora por si próprio.
Melhor local para fazer a libertação?
Sempre no mesmo local onde foi capturado. Tenhamos atenção que em águas rápidas, deve procurar-se um local sem corrente para soltá-lo, desta forma não obrigaremos o peixe a esforços no estado de exaustão em que se encontra.
Melhor forma de manusear o peixe?
Sempre com as mãos molhadas, evitando manusear demasiado o peixe para não tirar o muco que adere externamente à pele. Este muco é muito importante na defesa contra as contaminações e bastante útil na hidratação e controle da temperatura com o meio.
Quando fora de água procure mantê-lo sempre numa posição horizontal, pois algumas espécies poderão ter os órgãos internos comprimidos se forem segurados na vertical, pendurados pela boca ou pela cauda.
Os equipamentos adequados para uma libertação eficiente
-Linhas finas provocam combates mais longos para evitar rupturas, esta demora provoca um desgaste extra no peixe diminuindo a sua capacidade de resistência.
-O uso de fateixas sem barbela provocam menos danos no peixe. Algumas pessoas acreditam que o peixe se solta com facilidade após a ferragem com este tipo de fateixas, mas isso não é exactamente verdade. Mesmo em casos de peixes mais combativos, uma linha sempre tensa é a garantia da retirada do peixe da água, desta forma ganha-mos em emoção e aproximamo-nos mais de um combate entre iguais.
Outro aspecto não menos importante é que no caso de um acidente com o pescador, tornar-se-á bem mais fácil e menos doloroso retirar a fateixa.
Em alguns casos, principalmente na pesca de mar, em que as fateixas ou os anzóis ficam muito presos, ou o peixe quase os engole, é recomendável cortar a linha para a sua liberação. Nesta situação, é também recomendável, o uso de anzóis fabricados com materiais de rápida corrosão, para que em poucos dias se solte da boca do peixe.
O corte da linha não deve no entanto ser realizado muito próximo do estômago do peixe se ele vier a engolir o anzol, uma margem de 50 a 55 cm de linha será suficiente para a manter bem flexível.
-O camaroeiro é um equipamento prático e muito eficiente mas por outro lado, o contacto do peixe com a rede é prejudicial uma vez que retira boa parte da sua mucosa e até algumas escamas, diminuindo a resistência e facilitando o desenvolvimento de infecções por vírus e bactérias.
-O alicate de contenção (boga grip) foi desenvolvido para facilitar o domínio sobre o peixe, é fácil de usar, e por ser preso na boca não causa nenhum prejuízo nas demais partes do peixe. Deve ser preso na parte inferior da boca para não arranhar o tecido bucal e não provocar danos na guelra, em algumas espécies pode ocorrer uma pressão maior na guelra se for preso na parte superior causando-lhes sangramento.
O ideal é, no entanto, que o pescador não utilize nenhum tipo de equipamento para retirar o peixe da água, se for possível retire-o sempre com as mãos sem esquecer de molhá-las para não ferir o animal.
Quanto tempo fora da água?
Quanto menor for o tempo que o peixe permanece fora de água, maiores probabilidades de realizar uma libertação eficiente. Não existem regras básicas quanto ao tempo, no entanto sabe-se que as espécies de escama possuem menor resistência que as espécies de pele. Os peixes que necessitam de mais oxigénio, possuem menos resistência fora de água.
Dois aspectos que diminuem a resistência do peixe: a duração da peleja e o estado físico de cada peixe. O tempo que o peixe deve ficar fora de água será estritamente o suficiente para o pescador retirar a fateixa, fotografá-lo, medi-lo e pesá-lo, qualquer forma de exibição extra induz em prejuízos desnecessários para o animal, para além de aludir a formas de crueldade que eu pessoalmente abomino.
Evitar quedas do peixe
Sem dúvida é o que mais prejudica o peixe. Evitar a todo o custo que o peixe caia, em alguns casos o peixe morre somente com o choque provocado pela queda. Nem sempre é fácil, a mucosa do peixe é extremamente escorregadia o que se agrava pelas mãos molhadas do pescador, mas é justamente por isto que devemos ser mais cuidadosos.
Protecção das guelras
Em nenhum momento o pescador deve colocar as mãos nas guelras do peixe. Esta é uma área de grande irrigação de sangue, facilmente se provocam hemorragias e também é uma porta aberta para infecções.
Se um anzol atingir a guelra e houver sangramento muito provavelmente o destino do peixe será a morte, pelo que não adiantará a libertação a não ser nos casos em que o exemplar está abaixo dos limites legais.
Experimente, não custa nada e a Natureza agradece.
Preserve sempre que possa.
Fernando Cruz