por Afonso Gregório» 06 nov 2015, 01:18
Boa noite! A 3000 km de Portugal encontro-me em Lund, na Suécia. Aqui estou há sensivelmente dois meses, sítio onde tive a oportunidade de viver experiências em tudo diferentes daquilo que estou habituado em Portugal, incluindo a pesca. De realçar, o elevado custo de vida, a bicicleta como principal meio de transporte em todas as faixas etárias, e a natureza em todo o seu esplendor! Após a chegada e de tratar de me instalar e começar a desenvolver uma certa rotina, a minha principal preocupação foi encontrar uma loja de pesca. Trouxe comigo quase todo o material de spinning, a grande excepção foi a cana, que não compensava trazer no avião devido ao que teria que pagar pelo seu transporte. Dito isto, essa teria que ser a minha primeira aquisição se quisesse realmente pescar. Para mim não era uma incerteza, queria mesmo pescar, e então dirigi-me à loja de pesca! Estava já preparado para uma tortura à minha carteira, quando, a ver e experimentar canas me deparo com uma Cormoran i-Cor One, 2.10m, cw 10-40g. Era da colecção do ano passado e o dono da loja precisava de as vender para receber a colecção deste ano – segundo me explicou – como resultado disso o preço era mais do que apelativo. Peguei nela, montei o Stradic para testa o equilíbrio do conjunto e gostei de varejar com ela. Cana rápida, punho em cortiça como gosto, comprimento ideal para o rio e lagos e cw que me permitiria utilizar um grande leque de amostras! Por cerca de 20€ é talvez a cana com melhor relação qualidade / preço que já comprei, e até agora só tenho coisas boas a dizer, depois das provas que já deu e de ter, de facto, verificado a sua polivalência.
Com a aquisição feita foi então altura de saber onde pescar, quais os spots, e nada melhor do que perguntar na loja de pesca. Descobri que em Lund passa um rio, e que nele alberga Lúcios, Trutas e Percas, entre outras espécies “não” predadoras. A minha primeira visita não se fez tardar, e este foi o local que encontrei assim que cheguei:
Era algo difícil de pescar devido a toda a vegetação nas margens bem como submersa, mas quanto a mim com enorme potencial. As primeiras sondagens são as mais difíceis, pois tudo é novo, mas com alguma atenção começa-se a reparar nos trilhos, nos locais de acesso à água, nos spots, nas estruturas submersas, no leito do rio, nas partes fundas, na distribuição da vegetação e, onde procurar os peixes. Na primeira investida consegui mesmo pescar o meu primeiro lúcio, fiquei radiante! Nem queria acreditar que tinha acabado de pescar um peixe que só tinha visto em fotos até então!
Continuei a ir, sempre maravilhado com todo aquele pedaço de floresta nos arredores de Lund, onde até cavalos se aproximavam de mim junto às margens dor rio.
Sempre que tinha tempo no final das aulas o rumo que seguia era em direcção ao rio, desde então passei muitas tardes assim, a aproveitar algo de tão diferente e que tanto me agradava. Tudo isto a 20 minutos de bicicleta de minha casa. À media que ia pescando ia-me apercebendo de onde pescar e como pescar, os resultados não se fizeram tardar, e é com enorme agrado que posso dizer que foram inúmeros os lúcios com os quais já batalhei. Alguns levaram a melhor, mas outros consegui tirar fora de água e fotografar. São peixes lindíssimos, com um padrão e cores espetaculares, tanto no corpo por assim dizer, como nas barbatanas, que são raiadas em tons de preto e laranja. A silhueta do corpo é bastante diferente dos peixes a que estamos habituados em Portugal, bem como a boca, cujos dentes realmente têm o propósito de garantir a eficácia em busca das presas. É um peixe extremamente lutador, tem força e dá saltos espetaculares fora de água, algo de fenomenal. Convosco partilho algumas fotos que tirei e selecionei, de peixes que pesquei:
Curioso é que nunca tinha pescado mais do que um par de vezes com colheres rotativas, e para ser sincero, estou absolutamente rendido. Não tenho dúvida que, nos pesqueiros que aqui frequento são a opção mais polivalente. Comecei a usá-las em lugar de amostras rígidas ou vinis em prol de conseguir ferrar uma truta, pois nesta altura do ano elas regressam do mar para subirem o rio e desovar, no preciso local onde nasceram. Podem-se pescar excelentes troféus e esse foi desde início um dos meus grandes objectivos, um que, infelizmente não consegui realizar no troço deste rio. Apesar disso, desde a primeira vez que pesquei com colheres, os resultados foram surpreendentemente positivos, e a sua polivalência algo de fenomenal. Para além de Lúcios, outra espécie que apanho que frequência é a Perca. Mais uma espécie que com prazer inclui no meu portfólio. Um peixe muito bonito se dúvida e, extremamente voraz! A grande maioria das Percas que tenho pescado são pequenas, mas de quando em vez, tenho surpresas com percas de dimensões mais razoáveis e bastante lutadoras para o seu tamanho.
Pesquei também um peixe que consta na dieta dos lúcios nos rios da Suécia, cujo nome em Portugês não sei, mas em Inglês é conhecido por “Roach”
Se quando cheguei, no Verão, as paisagens eram verdes e cheias de vida, agora é Outono. O verde deu lugar a uma combinação de castanhos, vermelhos e amarelos, que cobrem as árvores e vegetação no geral. As folhas formam tapetes no chão à medida que as árvores vão ficando despidas. A vegetação submersa no rio é cada vez menos, é mais fácil de pescar. Os dias são muito mais curtos, as temperaturas caem de dia para dia e o sol do Verão transformou-se no nevoeiro do Outono.
E com todas estas mudanças, também o comportamento dos peixes. As Percas já não estão tão activas, mas no outro lado da balança pesa o comportamento dos Lúcios, que estão agora mais vorazes. Antes de chegar o Inverno e à medida que a temperatura da água baixa, estes estão cada vez mais activos, procurando alimento para preparam a escassez do Inverno. Estão agora mais gordos, e não hesitam em atacar algo que possa ser a próxima presa. Este Lúcio, que pesquei há dias trás, foi um dos mais bonitos que já apanhei, de tons mais acastanhados e visivelmente mais gordo do que os que apanhava no Verão:
Tenho vivido maravilhosas aventuras junto ao rio, sempre sem saber o que esperar no outro lado da linha. E fora isso, sempre a aproveitar estar em plenitude com a natureza, a pescar, a estar, a experimentar, a entender, a aprender. Tem sido verdadeiramente bom! Mas o desejo de pescar uma truta era algo que continuava em mim e então fiz de tudo para o concretizar. A 1 hora de bicicleta de minha casa existem 2 lagos que albergam trutas arco-íris, tentação à qual não resisti. Domingo pela madrugada acordei, preparei as refeições para todo o dia, arrumei a mochila, carreto, amostras e cana, e segui caminho. É difícil fazer estes percursos quando estão 5 graus na rua, é indispensável o uso de bons agasalhos e um bom para de luvas, isto para ter o mínimo de conforto possível, quando o frio gela todo o nosso corpo. O dia, porém, estava como gosto, sem vento e tapado de nevoeiro:
Mas não havia adversidade que me impedisse de tentar realizar este desejo, fui, e lá cheguei. O local é concessionado, a licença diária de pesca são 140 coroas suecas, aproximadamente 15 euros, e mais pescadores havia para além de mim. Rapidamente montei o material e gostei do ambiente. Todos os pescadores eram extremamente simpáticos e com uma excelente atitude, sentia-me bem a pescar. As trutas essas estavam difíceis… porém não deixei de insistir. Todos os conselhos era no sentido de pescar junto ao fundo, com amostras / jigs / colheres pesadas, mas eu via as trutas a explodirem à superfície. Foi então que mudei para uma colher com 15 cm e duas lâminas, que havia comprado para os lúcios. Toda a água qua agrrava perimita-me trabalhar bem junto à superfície e os flashs e vibrações que emitia jogavam, aparentemente, a meu favor. Num lançamento para uma zona de pedras eis que sinto algo que não vou esquecer, uma pancada mesmo forte, seguida de cabeçadas e cabeçadas. Depois foi a altura de correria e saltos fora de água, até finalmente ter a trurta a meus pés. Pesava 1.6 kg, fiquei boquiaberto, felicíssimo! Um peixe lindo que nunca tinha visto antes, e que me tinha proporcionado um dos melhores momentos de pesca da minha vida. Não podia pedir mais, estava o meu desejo realizado, tinha pescado a primeira truta da minha vida. E que bela primeira truta!
Tenho estado a gostar muito de estar na Suécia, apesar de não serem só coisas boas, é no geral muito bom. A pesca tem continuado a fazer parte da minha vida, como sempre o fez. É algo com o qual não sei viver, nem quero nunca ter que descobrir. Se há algo que me deixa feliz é poder ter a oportunidade de viver tudo isto e sentir coisas que a maioria das pessoas nunca vai sentir. Todos nós temos que encontrar algo que nos faça realmente felizes, aquela paixão que nos guia, só assim conseguimos viver o melhor de nós! Eu sei bem o que me guia, e não trocava a oportunidade de estar a assistir a estes pores-do-sol por nada deste mundo:
Ficha técnica:
Cana: Cormoran i-Cor One
Carreto: Shimano Stradic FI
Amostras: Várias: colheres / jgs / rigidas
Um forte abraço para todos, da Suécia,
Afonso Gregório