Antes de partir
por Afonso Gregório» 22 ago 2015, 00:07
Pode não ser do conhecimento da maioria, mas por alguns meses estarei na Suécia, mais concretamente em Lund, a estudar ao abrigo do programa Erasmus. Vou por cá ficar um semestre e é, aliás, desde a Suécia que escrevo este post. Uma vez que estava de partida não pude deixar de aproveitar ao máximo o meu Verão, o que se traduz em assistir a belos nascer e pôr do sol junto ao mar, a fazer aquilo que me proporciona uma verdadeira alegria e paz comigo próprio. Falo de pescar, portanto. Com o chegar do mês de Julho coube-me ir ao meu local mágico, áquela que é com certeza a praia do meu coração, onde ao longo de tantos anos fui tendo contacto com o mar das mais variadas formas e desenvolvi esta paixão pela pesca. Com mar mais calmo o spinning aos robalos adquire outros contornos, o peixe não come da mesma forma, as águas pouco mexem e a par disso também a pesca se traduz em poucos resultados. Ainda assim nunca deixo de lá ir, quando vejo que poderá ser altura certa apesar das adversidades e de o mar estar contra nós. A pescar ligeiro e mais rápido consegui sentir um peixe bastante agressivo, que não se fez rogado a um senko, mas que após algumas cabeçadas se foi, tão depressa como mordeu. Tive também a oportunidade de pescar outros bichinhos que tanto gozo me dão, falo de chocos. Sempre na mesma altura do ano, quase que como algo programado pela natureza parecem em grandes quantidades junto à costa para acasalarem e, posteriormente desovarem. O mar chão apelava a passar agradavéis noites em busca de sinal dos mesmos. Sinal esse que não tardou em chegar, consegui tirar alguns de fora do seu meio, um dos quais pousou para a foto. Cores tão bonitas e efeitos tão espectaculares destes cefalópedes!
Quando o mar se punha a jeito lá estava eu, a lançar amostras vezes sem conta em busca do nosso tão querido robalo. Mas as marés estavam trocadas com as horas que para mim são mais produtivas, quanto a isso não havia muito a fazer.
Ainda assim há muito para ver, observar e, sobretudo apreciar. Algo que tanto gosto e tenho a sorte de ver com regularidade são estrelas do mar, das mais variadas cores. Aqui fica a foto de uma das mais comuns que vejo regularmente:
Mas o mais importante é insistir, pois para apanhar peixe é preciso estar lá, e a qualquer altura podemos ter surpresas, o mar é um labirinto no que toca a esse assunto, nunca sabemos o que espera porque nada é garantido. Numa manhã consegui fazer um bonito robalo que, dado o seu tamanho voltou para o mar como não podia deixar de ser. Ei-lo:
E numa outra tarde mais um bonito peixe, ao qual dei todas as possibilidades de crescer:
Os dias iam passando e eis que algures no meio do Verão fiz uma viagem até Tenerife, nas ilhas Canárias. Como não podia deixar de ser levei a cana e o meu material de pesca para o mar. Pelo meio da bagagem não falou o carreto e amostras espalhadas pelos mais diversos compartimentos! Apesar de ir para desfrutar de férias num clima atípico e extremamente agradável , levava grandes expectativas quanto à pesca. Num dos passeios ao final da tarde vi aqueles que foram, até hoje, os caranguejos mais bonitos que vi na vida. De cores fora do vulgar e com um tamanho considerável. Não pude deixar de fotografar e partilhar:
Durante os primeiros dias informei-me acerca de onde pescar e logo tirei uma manhã para tal. Porém, pescar em molhes virados para o mar com uma força fora do vulgar não é algo que se deva fazer de calções de banho e, após um susto valente dei a pesca por terminada. Os únicos peixes que apanhei foram autênticos “lagartos do mar”, que não se faziam esquisitos quando deixava o vinil vir a bater pelo fundo:
Não voltei a pescar mais, aproveitei o resto da minha semana em boa companhia e estou certo que hei-de recordar excelentes momentos da minha estadia por lá! De volta a Portugal só queria voltar para a terra que me deixa tão feliz. Assim fiz! Pelo meio de preparar tudo para a viagem para a Suécia, nunca esquecia a pesca e nunca deixei de insistir quando o mar estava bom. Não me restava muito tempo, fiquei triste por ir embora. Sentia que ia perder um grande pedaço do meu Verão, das minhas pescas e não havia conseguido até então uma captura digna de registo. Eu tirava fotos claro, mas nunca a peixe, pelo menos com escamas:
Na véspera da minha ida para Lisboa deitei-me decidido a acordar cedo e fazer a minha ultima pescaria do Verão em Portugal. Acordei cedo, o céu estava a começar a ficar mais claro. Tomei o pequeno almoço, preparei o material e saí de casa, contente por ver o céu cinzento e o mar num tom acinzentado também. Quando cheguei ao pesqueiro montei tudo o mais rápido que consegui e comecei a lançar amostras. Um lançamento atrás do outro para aqueles espumeiros que o mar criava justamente no final da vazante! Sentia a maresia na cara, sentia o cheiro do limo que todos os anos por esta altura é abundante no meu cantinho, ouvia o farol ao longe e, sobretudo, sentia-me feliz. Algo nostálgico por partir, mas feliz! Quis o mar tratar de me proporcionar uma despedida a condizer e, num lançamento bem longo, enquanto a amostra passava a bater nas pedras, ora dentro ora fora de água, eis que sinto uma pancada seguida de cabeçadas. Era o peixe da minha despedida, trabalhei-o com calma até aos pés, deixando a escoa aterrá-lo em cima de uma pedra onde lhe consegui deitar mão. Era um lindo robalo, fiquei radiante! Não resisti em fotografá-lo assim que saiu da água e ainda exibia todas as suas cores e corpo imponente:
Sentia-me finalmente realizado, não tinha mais nada que pedir. Mas não deixei de pescar, era o último dia e não o ia desperdiçar. À minha direita tinha outra zona promissor, mudei então de pedras e continuei a lançar. Mas o meu pesqueiro este ano, ao contrário do último, está cheio de laminarias, algo a que não estou habituado. Os espumeiros eram diferentes daquilo a que estou habituado, a amostra a bater nas laminarias fazia-se sentir consistentemente na ponta da linha e sem dúvida que foi uma situação à qual tive que me adaptar! Mas como atrás disse, nunca sabemos o que esperar do mar, e eu tive talvez uma das maiores surpresas, algo que nunca na minha vida esperaria pescar naquela zona. Ferrei um peixe, um peixe muito nervoso e lutador, mas a luta bastante diferente das cabeçadas do robalo, peixe esse que nem vinha sequer à superfície. Quando o vi a primeira vez pensei ter apanhado uma dourada, que são frequentes nesta altura do ano, mas não… tinha acabado de pescar um lindíssimo lírio para meu espanto. Se com o robalo tinha ficado radiante, desta vez não estava a acreditar. Talvez nunca mais venha a acontecer, por isso é um momento que guardo com enorme satisfação e tenho todo o prazer em partilhar convosco:
Foi este o meu verão no que toca à pesca, mais não podia pedir. Não falo de tamanhos nem pesos, mas a diversidade de espécies com as quais tive contacto foi algo de especial. Em 21 anos que tenho adquiri uma paixão tão grande pela pesca, vejo o mar de uma forma tão especial. Oxalá todas as pessoas compreendessem o que é realmente o mar e a vida por trás da rebentação.
Ficha técnica:
Cana: Daiwa Lateo 100MH-Q
Carreto: Shimano Stradic 4000 FI
Linha: Berkley Whiplash Crystal 0,06 / terminal mono
Amostras: Vinil caseiro / Fiiish Black minnow 120 / Palhaço
Um grande abraço para todos!
Afonso Gregório