Outubro 2017

Despedida de Solteiro na Bretanha

por Filipe Alves» 03 out 2017, 22:03

Há uns meses atrás, e depois de uma conversa sobre despedidas de solteiro, eu e o Tiago decidimos que seria uma boa ideia fazer uma « despedida de solteiro » entre irmãos, um fim-de-semana longe do stress, do trabalho, da rotina do dia-a-dia… e claro com pesca à mistura ! Deu-se então início ao protejo. Inicialmente a ideia era ir pescar ao « paraíso dos robalos », a Irlanda. Depois de algumas pesquisas e pedidos de informações, e visto que a pescaria teria de ser em Maio, não era a melhor altura para pescar Robalo na Irlanda devido ao período de protecção e ás regras de pesca daquele país. A Irlanda teria de ficar para outra altura… certamente.

Não se desistiu da ideia (nem podia), e a pesquisa para ir pescar ao spinning na Irlanda deu asas a outro projecto : ir pescar na Bretanha, em França. Pesquisas e mais pesquisas, e chegámos a acordo com senhor de seu nome Christophe Botherel, um Bretão com um percurso de vida curioso, entre indústria farmacêutica, Harley Davidson Europa… e que acabou por fazer uma formação e se dedicar a monitor/guia de pesca na baia de Paimpol e arquipélago de Bréhat. Organizámos tudo com alguns meses de antecedência, para sair mais económico, mas como sabemos que a meteorologia e as marés podem sempre trazer surpresas, bastava rezar para que as condições tivessem boas para o fim-de-semana escolhido, mais precisamente do 12 ao 15 de Maio.

O grande dia aproximava-se! Em conversa com o Christophe, sabíamos que as previsões meteorológicas se anunciavam relativamente boas, mas com alterações quase diárias, e com algumas anulações de saídas de pesca de última hora. O robalo, esse estava a chegar em força à Bretanha. E também alguns sargos, badejos e douradas começavam a chegar. Chegado o grande dia, malas prontas, com algumas amostras originais e caseiras na mala para testar, aí vamos nos com a bagagem cheia de esperança num excelente fim de semana entre irmãos. Á partida da Suíça o tempo não era muito famoso, e a meteorologia no smartphone não se anunciava famosa em Bréhat/Paimpol. Chegados à Bretanha, mais precisamente a Nantes, algumas nuvens mas tempo agradável até.

Toca a pegar no carro alugado para ir até Kernanouet, pois tínhamos cerca de 3 horas de caminho. Quase na ponta final da viagem de carro, no meio de uma zona « deserta » da Bretanha, literalmente no meio do nada, com uma Natureza fantástica à nossa volta, chegámos a pensar que estaríamos perdidos. Mas lá chegámos finalmente a bom porto. Uma pequena quinta recuperada que serve de acolhimento turístico muito ao estilo do turismo rural no nosso Portugal. Recebidos pelo simpático e de primeiro contacto fácil Christophe lá nos instalamos. Depois de umas compras numa terriola das proximidades, o Christophe apresentou-nos a quinta mais ao pormenor, e algum do seu MUITO material de pesca, de grande qualidade diga-se.


Passamos ao seu « atelier de pesca » para preparar o material para o dia seguinte e aí as nossas « esponjas » do conhecimento sobre pesca começam a entrar em acção. Escolha de amostras de um stock quase interminável (praticamente tudo vinis, muito poucas amostras rígidas e tudo originais, os moldes de produção caseira foram postos de lado, pois segundo ele com a falta de tempo para a fabricação de vinis e os preços apelativos que consegue ter nas lojas patrocinadoras, o fabrico caseiro não lhe compensa), conselhos, exemplos, historias, ensinamentos, e sobretudo muita experiência e conhecimento da arte (muito mesmo)… Enquanto fazíamos cabeçotes caseiros com chumbo de varias formas e gramagem e tudo em anzol fixo tipo jig com curva de 60° (sim porque segundo ele e com a quantidade de cabeçotes perdidos pelos clientes, se os tivesse de comprar os mesmos ficariam numa fortuna, e as montagens tipo texas dão muito trabalho para montar para quem pesca todos os dias). Houve de tudo ! Depois de 1 ou 2 horas intensivas, tudo estava preparado.

Fomos convidados para jantar pelo Christophe. E pumba ! Mais 1 ou 2 horas de curso intensivo de vários tipos de pesca. Sim porque o Christophe pesca no mar, em rio, nos riachos das montanhas, na Bretanha, Irlanda e ultimamente também em Espanha. Mas já la iremos mais a frente. As nossas cabeças até ferviam ! Olhávamos um para o outro e por sinaléticas e expressões faciais, talvez só percebidas entre irmãos, estávamos radiantes. As expectativas para o dia seguinte e a certeza de termos acertado em cheio na escolha eram muitas. Noite dormida « à pressa » como se costuma dizer, a fazer lembrar os tempos de criança em que passávamos a noite ansiosos para ir pescar com o nosso pai no dia seguinte, imaginando e sonhando com as nossas capturas ! Enfim, coisas que só nós apaixonados pela pesca compreendemos.

Toca o alarme, e lá vamos nós à hora marcada tomar o pequeno-almoço com o Christophe (Chris para os amigos). Tempo agradável, sem uma ponta de vento. Radio ligada nas notícias matinais, anuncia bom tempo para aquele dia. Carrinha 4×4 com o semirrígido topo de gama com motor de 150cv atrelado… e muita expectativa e ansiedade também! Chegámos ao pequeno porto, canas montadas, material no barco, e água com eles. Paisagem magnífica, típica da Bretanha que até aquele dia só conhecíamos de fotos. Brutal. Spots para todo o tipo de pesca em todo o redor ! Que paraíso. Mas será que haverá capturas? – Pensávamos para nós mesmos. Chris faz os primeiros ajustes no seu sistema sonda/GPS topo da marca Furuno. Tal como nos tinha dito no dia anterior, podíamos e devíamos colocar questões sobre tudo ! Canas, amostras, carretos, natureza, geografia…

Foi então que, respondendo às nossas perguntas, nos começou a mostrar os ecos dos diferentes peixes, as diferentes formas dos arcos e o porquê dos mesmos. Chegamos ao primeiro spot, um local fantástico com um farol no meio de uma ponta de uma pequena rocha que sobressaia de um enorme rochedo debaixo de agua. Nem queríamos acreditar no que víamos na sonda ! Acho que nunca tínhamos visto tanto arco de peixe numa sonda, nem à pesca das fanecas na Figueira da Foz. E mais estupefactos ficámos quando ele nos diz que eram tudo robalos ! Depois de estudar um pouco a corrente, o vento diz-nos : « Preparem as canas para lançar na direcção do farol, que depois vamos rodando nesta direcção sempre a lançar… ». A escolha das amostras ficou ao nosso encargo. Se não estou em erro o Tiago começou com uma Illex nitro shad e eu com uma fiish crazy sandeel.

O Chris disse-nos que por norma não costuma pescar muita vez porque tem de explicar aos clientes a melhor forma e zona para lançar, e controlar o barco ao mesmo tempo. Mas naquele primeiro spot também lançou a cana. Estávamos os 3 à pesca ao mesmo tempo. Sinceramente não me lembro bem ao certo, mas penso que ao segundo lançamento, sinto uma pancada na cana e pumba ! Primeiro robalo ferrado. Segundos depois, o Chris pumba ferra um também, e mais alguns segundos depois o Tiago ferra outro que lhe dobra bem a cana. Bem, assim de repente estávamos os 3 com as canas na água e cada um com um peixe. Uma “tripleta” para começar ! O que se pode pedir de melhor ?! Num ápice, as expectativas viravam certezas.

Chris vira-se para nós e diz « Muito bem rapazes, uma “tripleta” não acontece todos os dias… ». Peixes devolvidos à água, com Chris só se pesca em « catch and release », ainda para mais porque estamos ainda no período de protecção do robalo na Bretanha, onde durante um ano se pode capturar robalo mas tem de se libertar (termina em Julho se não estou em erro). É assim que tem de ser se queremos continuar a ter peixe. Continuamos por mais algum tempo naquele spot, procurando o peixe que não parava de se deslocar com o baixar da maré, mas sempre em redor do tal farol. Sinceramente, e como costume, não me lembro do número de peixes que ferrámos naquele spot.

Eu, talvez uns 10/12, e o Tiago uns 6/7 mas bem maiores que os meus. A amostra dele era maior e mais indicada para peixes maiores. A alegria e a frequência com que tirávamos peixe era tanta que acho que nem se lembramos de mudar de amostra naquele primeiro spot. Também para quê se o peixe atacava as que tínhamos?!

Passámos a outros spots identificados, sempre com paisagens incríveis, uma natureza fantástica, uma zona rochosa aqui, outra ali, pequenas ilhas por todo o lado, spots maravilhosos. Mas abundavam os barcos de pescadores profissionais, com as suas redes e armadilhas, e o Chris dizia que com aquele cenário o robalo andava muito desconfiado, escondido e disperso. «Temos de ir à procura de actividade» laçou ele. E então fomos olhando para onde havia gaivotas, que a pique mergulhavam na água. Um espetáculo digno de ser ver. Que maravilha ! O que traziam elas no bico ? Galeotas e pequenos peixes. Toca a lançar vinis com essas formas para a água, testando vários tamanhos e cores. Iam-se tirando menos peixes que no primeiro spot, mas alguns com maior calibre.

Depois de andarmos às voltas atrás da actividade das gaivotas em vários spots, fomos para um outro spot, um local complicado segundo o Chris, que ele descobriu por acaso num dos vários dias em que varre a zona com o seu sistema de sonda/GPS para ver onde andam ecos de peixe, e traçando em 3D o fundo do mar, procurando possíveis spots… enfim coisa de Pro. Diz-nos que se capturarmos um peixe neste sítio, será dos grandes. Mas temos apenas hipótese de fazer um lançamento por cada vez que ele posicionar o barco da única forma possível para ter sucesso, portanto temos de ser rápidos e precisos no lançamento! O Chris aponta para o sítio onde iríamos lançar, uma zona bastante baixa, uma rocha enorme com apenas uns 50 cm de água acima dela, e depois, uma zona que afunda a pique, com um movimento de água bastante agitado, com águas cruzadas, espuma…

E é precisamente nesse início de descida a pique que os robalos se encontram. Grandes ecos que aparecem na sonda. Depois afastámos-nos uns bons 100/150 metros sem exagero para devagar, e tendo em conta a maré e o vento, posicionar o barco no local exacto. “Lancem nesta direcção e a amostra tem de cair na zona onde as águas se cruzam, onde vêm a espuma, deixam bater no chão e começam a animar logo de seguida mas puxando devagar” diz-nos o Chris. Na 2ª ou 3ª vez que lançamos, um pancadão na minha cana e zzzzzzzzz. Percebi de imediato que era o maior robalo que tinha ferrado até aquele momento, e talvez o maior de sempre. Que adrenalina! O Chris e o Tiago olhavam com aquela cara de expectativa e ansiedade de ver o que ali vinha. Passado um tempo lá veio o bonito e grande Robalo. Não houve peso nem medidas do peixe, apesar de ter levado balança e régua. Não era isso que estava em causa. Mas certamente que foi o meu recorde até hoje (também não era preciso muito, digamos).


Depois lá andámos a percorrer mais uns spots mas já sem grande actividade. Voltámos ao primeiro spot do farol, mas o robalo já tinha dispersado e os poucos que haviam estavam em modo “off”. Fomos navegando em direcção ao pequeno porto, com um ou outro lançamento aqui e ali, mas sem grande sucesso. Era hora de regressar a terra.

Chris convida-nos de novo para jantar com ele um dos abadejo pescados no dia. Que maravilha de peixe diga-se de passagem. E bem, levámos mais um banho de experiências, ensinos, pescarias, material top… até houve direito a vídeos de pesca ao atum! Se o “bichinho” de apanhar um atum de bom calibre já cá estava, ainda mais activo ficou! Quem sabe um dia destes não iremos a eles! De volta ao mar, desta vez já estávamos mais à vontade naquele paraíso de pesca. Começamos no mesmo spot de sábado (o do farol). Mas já tínhamos pré-seleccionado umas amostras que montámos em algumas das cerca de 15 canas disponíveis para irmos trocando e testando. Naquele dia as correntes eram mais fortes, mar mais mexido, e o peixe estava mais profundo e menos activo. Mas ainda se tiraram uns robalos bons naquele sítio, mas mais na vertical (estilo jigging) e não tanto na horizontal.

O Tiago chegou a tirar vários robalos seguidos com uma amostra “home made” feita por mim, imitação de uma marca conhecida com uma cor “especial de corrida” de uns restos de vinil de umas 3 cores diferentes que lá tinha em casa e usei para testar o molde. Sinceramente aquela cor não nos inspirava muita confiança. Como estávamos a pescar na vertical, deixando a amostra tocar no chão, onde os robalos de encontravam, o Tiago acabou por perder essa amostra. Aliás nesse dia perdemos várias amostras, ao contrário do primeiro dia onde, se não estou em erro, não perdemos uma só amostra. Efeitos de uma maré mais forte e de termos de procurar o peixe mais encostado ao fundo. Mas, por outro lado apareceram ecos de peixes diferentes nesse dia. Houve espaço para nos dedicarmos aos badejos, tendo tirado uns belos exemplares num spot onde havia pescadores a apanhar neles para vender ali mesmo ao nosso lado. Dois deles o Chris levou-os para oferecer aos pais dele.

Depois de mais uns quantos robalos em vários spots, era hora de experimentar a pesca aos esparídeos com canas bem mais sensíveis e umas amostras rígidas com uma imitação de camarão em vinil no anzol dessa amostra, a que o Chris chamava de ténia. Depois de várias tentativas e de um peixe desferrado na cana do Tiago, começo a recuperar a minha cana para mudarmos de sítio. Logo após o carreto ter começado a trabalhar, pancada forte na cana e grande vibração naquela ponteira bem mais sensível que as canas de spinning que tínhamos usado anteriormente. Peixe bem pesado, com boa vibração. “Que belo sargo ou dourada devo trazer aqui” pensava eu (e eles também). Mas depois de algum tempo para trazer o peixe à tona, afinal não era o tão aguardado esparídeo. Era um abadejo. O Chris ficou admirado de um peixe daqueles ter atacado a ténia, e ainda mais de eu o ter conseguido tirar com uma cana tão sensível e ligeira. Logo se aprontou para me tirar uma foto com o dito cujo. Mudámos de spot e voltámos à pesca ao Robalo. Voltámos ao tal spot mais complicado, mas desta vez sem sucesso. Com o mar mais agitado, era muito complicado pescar ali. Tirámos mais uns robalos aqui e ali, e era tempo de deixar aquele paraíso.

De volta a casa do Chris voltámos a jantar com ele. Disse-nos que se notava que éramos amantes da pesca e do mar, e que tínhamos aprendido bastante e evoluído naqueles 2 dias (com um professor daqueles não era difícil). Prova disso era o facto de termos tirado peixe em quase todos os spots, algo que nem sempre lhe acontece. Para iniciantes era muito bom, dizia ele. Feitas as despedidas, fica no ar a vontade de voltarmos um dia a pescar com o Chris… Quem sabe! E assim chegou ao fim a nossa grande aventura! Foi inesquecível. Ficam abaixo algumas das fotos para verem. Não metemos ficha técnica porque o material usado foi tão diverso que não nos lembramos das marcas e modelos de tudo.